Desemprego sobe a 7,9%, mas é o menor para o 1º trimestre
A taxa de desemprego do Brasil avançou a 7,9% no primeiro trimestre de 2024, após marcar 7,4% nos três meses finais do ano passado, indicou nesta terça-feira (30) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o órgão, o movimento de alta costuma ocorrer no início de ano devido a questões sazonais.
Apesar da subida, a taxa de 7,9% é a menor para o período de janeiro a março desde 2014.
O indicador estava em 7,2% no começo daquele ano, antes de a economia entrar em recessão no governo Dilma Rousseff (PT).
O novo resultado (7,9%) também ficou levemente abaixo das previsões do mercado financeiro. A mediana de analistas consultados pela agência Bloomberg era de 8,1%.
O desemprego costuma subir no primeiro trimestre com a retomada da procura por trabalho e o término de vagas temporárias de final de ano.
Não foi diferente nesta vez, segundo Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE. A técnica afirmou que o aumento da desocupação pode ser associado a esses fatores.
No primeiro trimestre, o número de desempregados avançou a 8,6 milhões. O contingente cresceu 6,7% (mais 542 mil) ante os três meses finais de 2023 (8,1 milhões).
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem ocupação e que procuram oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse contingente nas estatísticas oficiais.
Já a população ocupada com algum tipo de trabalho recuou a 100,2 milhões no primeiro trimestre. Isso significa uma redução de 0,8% (menos 782 mil) frente aos três meses anteriores (101 milhões).
“Esse panorama caracteriza um movimento sazonal da força de trabalho no primeiro trimestre de cada ano, com perdas na ocupação em relação ao trimestre anterior”, disse Beringuy.
Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). O levantamento contempla tanto atividades formais quanto informais desde os empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.
O IBGE destacou que, apesar da redução da população ocupada total, o número de trabalhadores com carteira não teve uma variação significativa. Esse grupo permaneceu em cerca de 38 milhões no primeiro trimestre.
“A estabilidade do emprego com carteira no setor privado, em um trimestre de redução da ocupação como um todo, é uma sinalização importante de manutenção de ganhos na formalização da população ocupada”, afirmou Beringuy.
RENDA SEGUE EM ALTA
Conforme o IBGE, uma das consequências da manutenção das vagas formais foi o desempenho positivo do rendimento do trabalho.
A renda avançou a R$ 3.123 na média dos ocupados. É o maior patamar para o primeiro trimestre na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.
O valor representa uma alta de 1,5% na comparação com os três meses anteriores e de 4% em um período mais longo, de um ano. O rendimento médio estava em R$ 3.077 no quarto trimestre de 2023 e em R$ 3.004 no primeiro trimestre do ano passado.
ANALISTAS AINDA VEEM QUADRO FAVORÁVEL
Analistas ainda enxergam um quadro favorável para o mercado de trabalho, mesmo com a elevação do desemprego de janeiro a março.
“Na nossa avaliação, os números apresentados reforçam a percepção de resiliência do mercado de trabalho, apesar da política monetária contracionista e seus efeitos defasados sobre a economia real”, afirmou a equipe de analistas da Genial Investimentos.
Para a Genial, esse desempenho positivo será um dos principais vetores para impulsionar o crescimento da economia no ano. O economista Rafael Perez, da Suno Research, também chama atenção para os potenciais reflexos na atividade econômica.
“O crescimento mais forte da atividade nesse começo do ano está bastante relacionado com o mercado de trabalho aquecido e os salários em alta, o que tem se refletido numa expansão da economia puxada principalmente pelo lado da demanda no primeiro trimestre”, disse.
Para o economista Igor Cadilhac, do PicPay, a Pnad mostra que o mercado de trabalho “segue forte e com uma composição saudável”.
“Olhando à frente, entendemos que os efeitos defasados da política monetária ainda podem contribuir para uma desaceleração da atividade econômica (cada vez menor) e um consequente aumento da taxa de desemprego, que ainda resistirá em patamares historicamente baixos por mais um bom tempo”, declarou.
A taxa de informalidade, que mede o percentual de informais ante o total de ocupados, foi estimada pelo IBGE em 38,9% no primeiro trimestre. O indicador estava em patamar levemente superior no final do ano passado (39,1%).
Conforme o instituto, a atividade de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais teve a maior redução do número de ocupados, em termos absolutos, no início de 2024. O setor perdeu 320 mil vagas na comparação com o final de 2023.
A redução, diz o instituto, foi puxada pelo término de contratos na educação pública, o que inclui professores.
“Mesmo no serviço público, acaba tendo a sazonalidade em que o processo de dispensa é na virada de ano. À medida que se inicia a atividade escolar há uma recontratação dos profissionais”, afirmou Adriana Beringuy, do IBGE.
LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
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