Início Ibovespa cai 1,11%, mas sobe 1,39% na seman

Ibovespa cai 1,11%, mas sobe 1,39% na seman

Os ativos brasileiros fizeram um catch up realinhamento com o que se viu desde ontem lá fora, com o clima mais tenso no exterior

Na retomada dos negócios após o feriado de ontem, o Ibovespa não conseguiu evitar o sinal negativo que se impôs em Nova York nessas últimas duas sessões da semana. Assim, a referência da B3 buscou mínimas no meio da tarde, em linha com a piora em NY, onde os índices de ações haviam subido em parte da manhã, mas perderam fôlego não muito tempo depois da abertura com a leitura sobre o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos em setembro, que se coadunou com o resultado acima do esperado para a inflação (CPI), divulgada na manhã anterior.

Hoje, após ganhos nas quatro sessões anteriores, o Ibovespa oscilou entre mínima de 115.658,27 (-1,19%) e máxima de 117 070,35 (+0,02%), encerrando o dia em baixa de 1,11%, a 115 754,08 pontos, com giro financeiro a R$ 21,2 bilhões. Na semana, o índice da B3 subiu 1,39%, vindo de perda de 2,06% acumulada no intervalo anterior. No mês, com a retração no pregão desta sexta-feira, volta a mostrar sinal negativo (-0,70%), limitando o avanço do ano a 5,49%.

Em Nova York, Dow Jones obteve leve ganho de 0,12% no fechamento desta sexta-feira, com perda de 0,50% para o S&P 500 e de 1,23% para o Nasdaq na sessão – na semana, o Dow Jones avançou 0,79% e o S&P 500, 0,45%, enquanto o Nasdaq cedeu 0,18%. Nesta sexta-feira, a perda de gás em Nova York acompanhou sinais de deterioração da confiança do consumidor americano, na métrica da Universidade de Michigan, em leitura que trouxe também aumento das expectativas dos consumidores para a inflação nos Estados Unidos.

“Os ativos brasileiros fizeram um catch up realinhamento com o que se viu desde ontem lá fora, com o clima mais tenso no exterior. Voltamos a ter pressão na curva de juros americana, que havia aliviado um pouco entre terça e quarta-feira, e agora volta a pressionar não apenas ativos de risco, como ações, mas a apreciar o dólar com a busca por proteção”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se à “iminência” da entrada de tropas de Israel na Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,77%, a R$ 5,0885.

De ontem para hoje, Israel deu ultimato de 24 horas para que civis sejam retirados da Cidade de Gaza e da faixa norte do território sob controle do Hamas, o que foi interpretado como sinal de que as forças de defesa do país estão prestes a ocupar essa área palestina.

Refletindo também a possibilidade de que terceiras partes se envolvam no conflito – o que já acontece com o grupo Hezbollah, que atua a partir do sul do Líbano, e com alguns ataques palestinos a partir da fronteira da Síria com Israel -, o petróleo voltou a operar muito pressionado nesta sexta-feira, após algum alívio observado antes do feriado no Brasil. A atenção está concentrada no Irã, grande produtor da commodity, e que a princípio buscou distância do ataque feito no último sábado, 7, pelo Hamas – um aliado histórico da teocracia persa.

Assim, com o petróleo Brent e WTI em alta acima de 5% no fechamento desta sexta-feira, o desempenho de Petrobras (ON +3,15%, PN +3,30%) contribuiu para evitar queda ainda maior para o Ibovespa ao longo do dia. Na ponta ganhadora do índice, além da estatal, destaque para as petrolíferas Prio (+5,04%) e 3R Petroleum (+3,19%), além de Suzano (+3,37%). No canto oposto, Grupo Casas Bahia (-8,20%), Soma (-7,26%) e Natura (-7,01%). Na semana, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 8,11% e 8,27%.

“Mais um dia de queda para as bolsas, nos Estados Unidos e na Europa, e aqui no Brasil não foi diferente, apesar de Petrobras ter aproveitado a alta do petróleo”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. “Ontem, os juros americanos de 10 anos tinham disparado, após os dados sobre a inflação dos Estados Unidos – um movimento que tira dinheiro de ativos no mundo inteiro, principalmente dos emergentes”, acrescenta o economista.

Afora Petrobras, as demais ações de peso e liquidez na B3 – entre as quais Vale (ON -1,14%), mesmo com a alta de 1,45% no minério de ferro em Dalian (China) – cederam terreno na sessão. Na semana, a ação da mineradora caiu 0,40%. Entre os grandes bancos, o dia também foi de correção, com destaque para a queda de 1,79% em Santander (Unit) – que avançou, contudo, 1,07% na semana, em intervalo também levemente positivo para Bradesco (ON +0,24%, PN +0,14% na semana).

Do exterior, de ontem para hoje, destaque ainda para a divulgação de nova rodada de indicadores sobre a economia chinesa, com atenção especial para os dados de comércio exterior Tanto as exportações como as importações chinesas recuaram 6,2% no mês passado, ante o mesmo intervalo de 2022, com as vendas para o exterior mostrando retração pelo quinto mês consecutivo – ainda assim, a leitura veio melhor do que a estimativa de consenso, de queda de 8,3% para setembro, conforme a FactSet.

Na China, também foram divulgadas leituras sobre inflação e concessão de crédito pelos bancos. O índice de preços ao consumidor (CPI) permaneceu estável em setembro, na comparação anual, enquanto a inflação ao produtor (PPI) recuou 2,5% na mesma base de comparação. Por fim, a concessão de novos empréstimos por bancos chineses avançou com intensidade em setembro, bem acima da leitura de agosto, atingindo agora a marca de 2,31 trilhões de yuans, o correspondente a US$ 316,31 bilhões – no entanto, ficou um pouco abaixo da expectativa de consenso para o mês, de 2,63 trilhões de yuans, segundo analistas ouvidos por The Wall Street Journal.

Apesar da aversão a risco que deu o tom aos negócios na semana em todo o mundo, a maioria dos participantes do Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira acredita que o Ibovespa terá desempenho positivo no agregado das próximas cinco sessões. Os que esperam alta para o índice são 60,00%, leve abrandamento em relação aos 62,50% que estimavam tal movimento na semana passada Os que acreditam em estabilidade passaram de 25,00% para 40%. Não houve estimativas de queda, ao passo que na sexta-feira passada esse contingente era de 12,50%.

Dólar

O dólar à vista acelerou os ganhos ao longo da tarde e, após registrar máxima a R$ 5,1027, encerrou a sessão desta sexta-feira, 13, em alta de 0,77%, cotado a R$ 5,0885. Em meio a incertezas provocadas pela escalada do conflito o Oriente Médio ao longo do fim de semana, diante de provável invasão terrestre da Faixa de Gaza por tropas israelenses, investidores intensificaram a busca por proteção na moeda americana durante a segunda etapa de negócios. Israel deu 24 horas para evacuação do norte de Gaza, algo rechaçado pelo grupo palestino Hamas e visto como inviável pela comunidade internacional.

Apesar do estresse hoje, a divisa encerra a semana em baixa de 1,43%, refletindo a perspectiva crescente de que não haverá alta de juros nos EUA em novembro, após discursos de diversos dirigentes do Federal Reserve nos últimos dias ponderando que a taxa básica americana já está em nível restritivo. Em outubro, contudo, o dólar ainda acumula valorização de 1,23%, em razão da disparada na primeira semana do mês.

Além da questão geopolítica, houve nesta sexta-feira um ajuste de posições à nova leva de indicadores dos Estados Unidos. Ontem, com os mercados locais fechados, saiu o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro, com resultado ligeiramente acima do esperado para o número cheio, mas leituras de núcleo em linha com as expectativas. Pela manhã, pesquisa da Universidade de Michigan mostrou queda do sentimento do consumidor além do projetado e piora da expectativa de inflação para 1 e 5 anos.

Referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY – que ontem subiu 0,74% na esteira do CPI – hoje apresentou leve alta, ao redor dos 106,700 pontos. As taxas dos Treasuries recuaram em bloco, em claro sintoma de aversão ao risco. O retorno da T-note de 10 anos, que chegou a atingir 4,80% recentemente, agora trabalha abaixo de 4,65%. Já em alta pela manhã, as cotações do petróleo dispararam ao longo da tarde O contrato do Brent para dezembro voltou a superar o nível de US$ 90 ao fechar em alta de 5,69%, a US$ 90,89 o barril.

“Estamos vendo hoje uma busca por segurança no dólar com o estresse da guerra e a possibilidade de escalada do conflito no fim de semana, com a provável invasão de Gaza. As taxas dos Treasuries, que estavam no maior nível em quase 20 anos, recuaram”, afirma o sócio e diretor de derivativos e Câmbio da VEX Capital, Rafael Ramos, ressaltando que o avanço das cotações do petróleo pode provocar alta da inflação. “As consequências vão além dos preços no mercado financeiro. Podemos ter impacto na atividade global, com a inflação mais pressionada por conta do petróleo”.

Por ora, não há mudanças em torno da expectativa para o rumo da política monetária nos EUA em razão da guerra no Oriente Médio. Monitoramento do CME Group mostra mais de 90% de chances de que o BC americano mantenha a taxa básica inalterada em novembro. Pela manhã, o presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Patrick Harker, disse que um “pouso suave na economia” tem se mostrado cada vez mais provável nos Estados Unidos, dado que as taxas de juros não devem ser mais elevadas. Ele afirmou que os efeitos do aperto monetário ainda vão se fazer sentir e que as taxas “vão precisar ficar altas por mais tempo”.

Juros

O ambiente externo avesso ao risco e a alta firme do dólar ante o real conduziram os juros futuros a uma forte elevação nesta sexta-feira. Os contratos abriram mais de 15 pontos-base nos piores momentos do dia ante o ajuste da quarta-feira, dado o cenário geopolítico mais desafiador e a resiliência da inflação nos Estados Unidos. O giro de negócios é mais fraco, reflexo da emenda do feriado de Nossa Senhora Aparecida.

O DI para janeiro de 2025 subiu de 10,879% no ajuste de quarta-feira para 11,000%. O janeiro 2027 avançava de 10,847% a 10,995%. E o janeiro 2029 passava de 11,307% a 11,450%.

No cômputo semanal, contudo, a curva perdeu inclinação. O diferencial entre os contratos janeiro 25 e janeiro 29 saiu de 61 pontos-base na sexta-feira passada para 45 pontos hoje até o horário acima, em linha com o movimento dos Treasuries.

Mesmo com a baixa dos rendimentos dos Treasuries hoje, o movimento local é de acúmulo de prêmios, já que, devido ao feriado ontem, o mercado doméstico está em um delay em relação ao americano. Ontem, os juros dos Treasuries subiram forte depois de o índice de preços ao consumidor (CPI) de setembro vir acima do consenso dos economistas e o leilão de T-bonds de 30 anos mostrar a pouca propensão do investidor em tomar dívida de longo prazo dos Estados Unidos.

A pressão externa vem também via câmbio, com a subida do dólar a R$ 5,08, e a disparada do petróleo Brent. Ambos são fatores de atenção para a inflação doméstica, por causa dos potenciais efeitos na política de preços da Petrobras.

A cotação da commodity disparou hoje em meio a dúvidas quanto à escalada do conflito. As Forças Armadas de Israel ordenaram que todos os palestinos vivendo na porção norte da Faixa de Gaza devem se retirar da região e ir para sul do território para “preservar vidas civis”, sugerindo uma provável invasão da região. Ao menos 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada. Em uma declaração no Telegram, o grupo terrorista Hamas, que controla Gaza, disse aos palestinos para não atenderem às exigências israelenses.

Estadão Conteúdo

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